Acordar para a vida

De olhos fechados deixo a mente vaguear e pensar no percurso que me levou a este momento.

Imagino uma imagem do espaço sideral, vazio e com a luz distante de estrelas que provavelmente já não existem.

Essa é a imagem perfeita para descrever os meus primeiros 15 anos neste mundo.

Vazio, sem nada que marque a memoria sem ser as breves lembranças de momentos que já não sei se são reais, sonhos ou simplesmente desejos do que queria que tivesse acontecido.

A mente começa a vaguear para a etapa seguinte da minha vida, não quero recordar e por isso abro os olhos e tudo o que vejo é escuridão.

Essa escuridão são os meus 13 anos seguintes neste mundo.

Mas estou de olhos abertos não devia estar a ver isto, confuso e assustado começo a recordar vozes e sentimentos do passado.

"Não", "Tu não consegues", "isso é impossível para ti", dor, raiva, frustração e desespero.

Tento forçar a mente a parar, largar essas memorias, esse era o passado e o passado é para aprender e não para nos prender.

Raios de luz aparecem e com eles memorias dos meus últimos 2 anos, tornando a escuridão em sombras.

Memorias de amizade, amor, felicidade, traição e dor.

Começo a pensar que não é perfeito mas é melhor do que estar na escuridão, preso com os sentimentos e as vozes.

NÃO! Não vou ficar preso ao passado hoje não sou o mesmo e o dia é outro.

Um som agudo invade os meus ouvidos e a minha mente, as sombras começam a tremer, raios de luz aparecem por todo o lado até as sombras desaparecerem e eu sinto-me a cair.

A queda parou subitamente, o meu coração acelerado, adrenalina a percorrer o meu corpo, um movimento violento dos músculos e as memorias do que se passou ainda frescas na minha mente.

Reparo que tinha-me deixado dormir tal como tenho feito a vida toda, o som agudo ainda presente, olho para o lado e reparo que é o alarme a marcar as 8 da manha.

Desligo o alarme e começo a ouvir o som de chuva a bater suavemente na janela, desloco-me para abrir as cortinas.

Olho pela janela, o meu corpo, sentidos e mente completamente activos devido a adrenalina.

Vejo a chuva a cair, o céu nublado, os campos verdes a mexer suavemente devido ao vento.

Neste dia em que acreditam que o corpo e alma ao concluir o curso da sua vida terrena partem juntos para um sitio melhor, com a memoria do que se tinha passado e a sensação de queda ainda presente na mente e no corpo.

Começo a sorrir e um único pensamento passa pela minha mente.

Hoje vai ser um bom dia, está na hora de começar a viver e de deixar o passado ser o passado.

Jorge Rocha

15/08/2012